Escarafuncho*
Glória W. de Oliveira Souza
Glória W. de Oliveira Souza
O Twitter é um microblog em que o usuário pode enviar
mensagens de até 140 caracteres. Tem duas características fundamentais: a
tônica da interação e a formação de laços sociais não baseadas em vínculos
preexistentes. Mas tem penetração individual em fluxos de ideias. Estas
características fazem do Twitter um
espaço de dinâmicas sociais de inteligência coletiva. Uma plataforma
tecnológica que subverte as limitações convencionais espaço-temporais do real.
O maior desafio de escolher o Twitter
como objeto de pesquisa está em estudar um fenômeno em movimento. Outro fator
que problematiza a dinâmica de processos do Twitter
é a sua territorialidade pouco consistente. A vida comum transforma-se em algo
espetacular, compartilhada por milhões de olhos potenciais. A ideia de
múltiplas identidades, distanciada da noção de imobilidade que persistiu
durante a modernidade.
Dá o tom da urgência pelo momento presente. "Nós não nos
consideramos uma rede social. Somos uma rede de informação". Isso porque
os usuários continuamente reportam não apenas o que estão fazendo, mas o que
está acontecendo ao seu redor. O retweet é uma função
do Twitter que consiste em replicar uma determinada mensagem de um usuário para
a lista de seguidores. Dá-se crédito a seu autor original. Pode-se
também afirmar que os mecanismos internos destas redes, modificam a forma que
os textos são construídos.
Conto é um gênero textual e apresenta os
mesmos elementos de outros textos narrativos: enredo, espaço, tempo, narrador e
personagens. Observe
nas produções literárias que são hospedadas no Twitter. Esta literatura
presente no Twitter é conhecida por Twitteratura. Ao reduzir os
espaços e aumentar os seus efeitos de expressão, os microcontos ascendem como
reflexo das multifaces da literatura. É uma constante (re)visitação de gênero
textuais em tempos distintos.
A unidade narrativa da microficção representa uma
fatia menor de vida. Mas nela há síntese, tensão, surpresa e revelação. Textos
concisos que possuem intensa significação e narratividade, e que fogem do
convencional. A literatura minimalista é caracterizada pela
economia de palavras.
Os autores minimalistas evitam advérbios e preferem sugerir contextos a ditar
significados. Espera-se dos leitores uma participação ativa na criação da
história, pois eles devem “escolher um lado”, baseados em dicas e insinuações,
ao invés de representações diretas. Os
microcontos apresentam diálogo ininterrupto com o contemporâneo e com as
inovações tecnológicas. O discurso é sucinto, um recorte cirúrgico no
tumultuado cotidiano do final do século XX.
Neste início do XXI, provoca
inquietação no leitor e o exige na coautoria. A publicação dos textos na rede
permite múltiplas leituras. Quanto mais pessoas lendo, maiores são as
possibilidades de interpretação. Isso dá mais riqueza ao texto. "O que
escrevemos em um microconto é apenas 10% da história. O resto se constrói na
cabeça de quem lê".
* parte suprimida da antologia publicada pela Editora Illuminare.
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