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segunda-feira, 22 de maio de 2017

Escarafuncho

Escarafuncho*
Glória W. de Oliveira Souza

O Twitter é um microblog em que o usuário pode enviar mensagens de até 140 caracteres. Tem duas características fundamentais: a tônica da interação e a formação de laços sociais não baseadas em vínculos preexistentes. Mas tem penetração individual em fluxos de ideias. Estas características fazem do Twitter um espaço de dinâmicas sociais de inteligência coletiva. Uma plataforma tecnológica que subverte as limitações convencionais espaço-temporais do real. 

O maior desafio de escolher o Twitter como objeto de pesquisa está em estudar um fenômeno em movimento. Outro fator que problematiza a dinâmica de processos do Twitter é a sua territorialidade pouco consistente. A vida comum transforma-se em algo espetacular, compartilhada por milhões de olhos potenciais. A ideia de múltiplas identidades, distanciada da noção de imobilidade que persistiu durante a modernidade. 

Dá o tom da urgência pelo momento presente. "Nós não nos consideramos uma rede social. Somos uma rede de informação". Isso porque os usuários continuamente reportam não apenas o que estão fazendo, mas o que está acontecendo ao seu redor. O retweet é uma função do Twitter que consiste em replicar uma determinada mensagem de um usuário para a lista de seguidores. Dá-se crédito a seu autor original. Pode-se também afirmar que os mecanismos internos destas redes, modificam a forma que os textos são construídos. 

Conto é um gênero textual e apresenta os mesmos elementos de outros textos narrativos: enredo, espaço, tempo, narrador e personagens. Observe nas produções literárias que são hospedadas no Twitter. Esta literatura presente no Twitter é conhecida por Twitteratura. Ao reduzir os espaços e aumentar os seus efeitos de expressão, os microcontos ascendem como reflexo das multifaces da literatura. É uma constante (re)visitação de gênero textuais em tempos distintos. 

A unidade narrativa da microficção representa uma fatia menor de vida. Mas nela há síntese, tensão, surpresa e revelação. Textos concisos que possuem intensa significação e narratividade, e que fogem do convencional. A literatura minimalista é caracterizada pela economia de palavras. 

Os autores minimalistas evitam advérbios e preferem sugerir contextos a ditar significados. Espera-se dos leitores uma participação ativa na criação da história, pois eles devem “escolher um lado”, baseados em dicas e insinuações, ao invés de representações diretas. Os microcontos apresentam diálogo ininterrupto com o contemporâneo e com as inovações tecnológicas. O discurso é sucinto, um recorte cirúrgico no tumultuado cotidiano do final do século XX. 

Neste início do XXI, provoca inquietação no leitor e o exige na coautoria. A publicação dos textos na rede permite múltiplas leituras. Quanto mais pessoas lendo, maiores são as possibilidades de interpretação. Isso dá mais riqueza ao texto. "O que escrevemos em um microconto é apenas 10% da história. O resto se constrói na cabeça de quem lê".

* parte suprimida da antologia publicada pela Editora Illuminare.